Seguindo as pistas, decidi consultar o oráculo de ifá sobre como iniciar esta nova fase do Materializador. (25.08.2014)
Cheguei ao prédio em uma rua tranquila. Subi pela escada ao apartamento que fica no segundo andar. Abre a porta o oluwo que é senhor do segredo de ifá. Entro e um gato preto me saúda se esfregando nas minhas pernas. Sentamos no sofá para baixar a energia da rua. Ele me oferece um chá. O gato sube no meu colo e fica lambendo a minha mão. Ele conta que faz parte de uma tradição que foi reconstruída depois do fim da escravidão. Alguns babalaôs se aproveitaram de um incentivo do governo brasileiro para mandar de volta os negros recém libertos para a África. Assim, puderam rever suas origem e fazer as iniciações com mestres africanos para depois voltar ao Brasil. O ifá mais comum no brasil tem 16 Odus é fruto de uma simplificação que foi possível pela transmissão oral nas condições adversas do cativeiro. A versão que ele joga trabalha com 256 Odus e em cada Odu uma infinidade de narrativas, conselhos e trabalhos.
Conversamos brevemente tomando o chá até que ele disse para nos mudarmos para a mesa. Desenrolou suavemente um pano rendado e organizou os pequenos objetos que estavam dentro. Um cordão de contas foi colocado em círculo. Acima, um cristal, algumas moedas e uma semente grande. E no meio do círculo, os búzios. Ele fez uma oração com palavras yoruba. Com os dedos dentro de um pequeno pote de água, enquanto falava, jogava gotas no chão. Pedimos autorização aos meus mortos. Ele pegou os búzios e os esfregou entre as mãos várias vezes. Aproximava-os do rosto e sussurrava com eles. Me passou os búzios e fiz o mesmo. Como que em segredo, pedi a Orunmilá orientação para o Materializador de Sonhos. Os búzios foram jogados várias vezes. Em um papel ao lado ele ia anotando o resultado que foi mais ou menos esse:
Primeiro Odu: Ejiogbe
Segundo Odu: Iwori
Terceiro Odu: Odi Megi
Como no Materializador o ifá também tira 3 Odus para falar. O primeiro é o princípio, o pano de fundo. O segundo é o desafio. E o terceiro é a solução. No meu caso os Odus vieram na ordem crescente o que é muito auspicioso. Dos 256 odus tirei os número 1, 3 e 4. O oluwo me contava consultando os Odus em seu tabet:
“Ejiogbe e? o primeiro Odu-Ifa? e assinala o ini?cio de tudo. O sol nascente. Prenuncia um início significativo, muito bem visto. Vá em frente, faça. É preciso apenas paciência que a mariposa não pode voar antes da hora.” Lembrei do sonho da bicicleta em que o caminho correto é à pé.
“Vai mexer em outras estruturas. Ciúmes. É preciso cuidar para fazer a divisão justa das coisas e não gerar dívidas.”
“Uma história: Da disputa entre tre?s caminhos, Terra, Prac?a e A?gua, pelo desejo de ser o mais importante, Aja?, que serviu de intermediador lhes disse: “Lutem por simples prazer, pois nenhum dos tre?s e? mais importante que os demais. Desta forma, e? necessa?rio que se unam e vivam em paz. Se a A?gua na?o cair sobre a Terra, esta na?o produzira? seus frutos e a prac?a perdera? a sua utilidade que e? a de servir como local de comercializac?a?o dos frutos da Terra. Vivam em paz, os tre?s te?m a mesma importa?ncia!”
“Iwori diz para resguardar a cabeça. É preciso ter cuidado com a auto sabotagem. O desafio aqui está na cabeça: vícios, medos. Cortar a cabeça. Contrasta com Ejiogbe. você tem a clareza, precisa pensar menos ou não deixar a cabeça guiar sempre… Descobrir grandes coisas por pequenos detalhes… Trançando linhas se faz uma corda… Não estou entendendo. Que tipo de trabalho é este que você vai começar?”
– É o Materializador de Sonhos que eu te comentei antes… os sonhos que viram relevos e depois um tarô.
“Ah, tá! Porque ele está dizendo várias vezes “Ele não pode querer ser maior que Orumilá, ele sabe que não pode querer ser maior que Orumilá.”
– Eu sei que não posso querer ser maior que Orumilá. Claro. É um projeto de arte, uma pesquisa, um experimento.
“Não pode ser nem maior nem menor do que é. Tem de ser do tamanho justo. Porque vejo que tem uma força e uma prática espiritual o trabalho. Isso indica solução para o problema das pessoas. Você só não pode achar que é você que ajuda as pessoas”
– Eu não acho. O Materializador é uma ferramenta e se alguém ajuda é a própria pessoa que se dá o tempo. Pergunta e se abre para receber a resposta, mas a resposta está sempre dentro de si mesmo.
“O terceiro Odu é Odi Meji que siginifica bunda. Tudo que tem na terra um dia morre. É preciso atentar para o fim das coisas. Aqui Odi Meji caiu em Ire Omã. A inteligência está potencializada, porém é preciso cuidar com o esquecimento e com a loucura. Há muita vitalidade sexual.”
Resumindo temos um início claro como o nascer sol. Os acordos devem estar claros e depende de mim deixá-los claros. O desafio de não se perder na mente, no orgulho ou na idealização. E a solução de ser guiado pela vitalidade sexual, pelo prazer e inteligência do corpo.
O oluwo joga mais algumas vezes os búzios e diz que minha cabeça é de Ajaguna. Me manda tomar um banho de flores do campo coloridas com leite de coco por 3 dias.
Pergunto se devo deixar público esta consulta e também todos os sonhos-pistas e o processo do materializador.
“Sim e não. Depende de como, mas não conte tudo. Edite e mostre somente o que for essencial.”
Ainda fiz mais algumas perguntas antes de terminar a consulta.
Tomei o banho por 3 dias começando no dia 28 de agosto que descobri é o dia do início do festival de Ganesha quando oferecem flores e coco a esta deidade.
Com os caminhos abertos começamos o Livro 2 do Materializador de Sonhos.